Hoje choveu.
Em meus vinte e poucos anos é a segunda vez que vejo água caindo do céu.
Em meus vinte e poucos anos é a segunda vez que vejo água caindo do céu.
Eu estava caminhando pra casa depois do trabalho, o sol se
abaixava e uma brisa úmida acariciava meu rosto vindo de algum lugar muito distante.
Eu parei por alguns instantes, fechei meus olhos e respirei fundo procurando pelo
cheiro da terra molhada. Quando abri meus olhos novamente eu via o horizonte
sendo coberto por colossais nuvens de um cinza muito delicado. “Está chovendo”
diziam as crianças, moças e velhos correndo para avisar seus parentes, amigos e
conhecidos de que algo muito bom estava acontecendo.
Não chove muito por aqui. O chão é rachado, o ar é seco e as
pessoas são pobres. Talvez seja por isso que a cidade parou de crescer. E
talvez nunca mais cresça.
Mas esse povo está aqui a muito tempo e já aprenderam a ser feliz assim. Há muito trabalho para se conseguir água e uma chuva como a que caiu no final dessa tarde é protagonista de muitas histórias e mitos por aqui.
Mas esse povo está aqui a muito tempo e já aprenderam a ser feliz assim. Há muito trabalho para se conseguir água e uma chuva como a que caiu no final dessa tarde é protagonista de muitas histórias e mitos por aqui.
Água caindo do céu. Só pode ser um milagre. Então, aproveite
e deseje algo que queria muito e a chuva vai trazê-lo pra você.
É o que dizem.
Eu li muito mais sobre a chuva do que a vivi de verdade. Jornais,
revistas, livros didáticos e principalmente poesias. Sempre gostei das poesias
que falavam sobre a água que cai do céu.
Toda sua melancolia rítmica batendo nas telhas de barro, umedecendo a roupa, formando poças no chão, me fazendo chorar.
Toda sua melancolia rítmica batendo nas telhas de barro, umedecendo a roupa, formando poças no chão, me fazendo chorar.
É comum que as pessoas chorem quando chove. É quase que a
felicidade pura caindo do céu, mesmo que melancólica. Mas eu só conseguia pensar
em uma coisa: A Clarisse havia me deixado a dois meses. Ela podia estar aqui
pra ver a chuva, se molhar, chorar junto comigo.
Eu só tenho trabalhado desde então. “Ocupe sua cabeça, meu filho”. Mas não dá para manter a cabeça ocupada o tempo inteiro, e pra falar a verdade já me acostumei a sentir sua falta.
Eu só tenho trabalhado desde então. “Ocupe sua cabeça, meu filho”. Mas não dá para manter a cabeça ocupada o tempo inteiro, e pra falar a verdade já me acostumei a sentir sua falta.
Deus, como ela faz falta.
Mas eu me senti feliz na chuva.
Na verdade... Eu não sabia.
Quando cheguei à porta da minha casa estava encharcado e já
havia ouvido todo o tipo de pedidos e desejos.
Estava encharcado deles também. Poderia fazer o meu, poderia pedir pra
ela voltar. Chegar molhada em casa pedindo desculpas e abrigo. Podia pedir pra vê-la só mais uma vez.
Mas não foi o que eu pedi.
A chuva parou faz pouco mais de uma hora e a calha ainda
está pingando. Muitas pessoas devem estar contentes com seus desejos realizados
lá fora. Eu estou. Por ver a lua que
estava no céu quando nos beijamos pela primeira vez.
A lua. Que vem todo mês.